O furto
Ontem furtei um livro,
prática desonesta eu sei.
Mas resistir a beleza de suas capas,
que modo ei?
Na prateleira jazia,
coberto de mofo e poeira.
Tal qual minha'lma,
sem eira nem beira.
Tenho sono e não durmo,
é a chama que arde,clama a noite;
soturna é sua voz,no negrume estou a me perder,
rabiscando estas linhas para não me enforcar.
Um velho bêbado passa,de minha pessoa se ri,
ao longe vocifera: - Retorna a teus livros criança,a bruma da noite não é para ti.
Que há então nesse mundo para mim?
-Vinho doce.
-A embriaguez é sempre a mesma
-Contai então as estrelas.
-Nunca ei de finar,e seu fulgor como meu coração pulsa mas já é morto.
Vivo.
Tudo é fastio,
saciada estou do mundo.
Mas velho,tens razão afinal,vou voltar ao livro que furtei.
Desperta minha'lma,
ao reino das palavras então ascende.
Estranho devaneio meu peito aperta,
mas como sonhador sempre anseia,
um dia esta tristeza,há de acabar.