A poesia me abandonou

Escuro e sombrio quarto

Quente e desarrumada cama

Me jogo.

Papel amarelado

Lápis mordido entre os dedos

Tamborila sobre o joelho.

Onde está você, minha terna e gentil companheira?

Em qual gaveta fostes te esconder?

Por qual porta fugistes, e mais

Porque não ouço mais você?

Ficou muda e sumiu,

De repente,

No ar...

Fugiu como quem vê o diabo

E me renegou à solidão desta vida infame

Porque sem você os dias são mais cruéis

As horas custam a passar

O meu alento é te chamar

Clamar por você numa canção muda

Feita apenas de gemidos...

A poetisa calou-se. O pranto rompe as cadeias da dor

Exala perto de si o cheiro fúnebre

Ouve-se o cortejo da morte

E o sino da Igreja badala...

Uma...

Cai a lágrima

Duas...

A dor aguda

Três...

Fecho os olhos

Quatro...

Sinto o gosto salgado

Cinco...

Mordo os lábios

Seis...

Um soluço

Sete...

Aperto-me em meus braços

Oito...

Estremeço

Nove...

Abro os olhos

Dez...

Tudo escuro

Onze...

Suspiro

Doze...

...................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Milene Gomes
Enviado por Milene Gomes em 05/06/2014
Código do texto: T4833317
Classificação de conteúdo: seguro