A poesia me abandonou
Escuro e sombrio quarto
Quente e desarrumada cama
Me jogo.
Papel amarelado
Lápis mordido entre os dedos
Tamborila sobre o joelho.
Onde está você, minha terna e gentil companheira?
Em qual gaveta fostes te esconder?
Por qual porta fugistes, e mais
Porque não ouço mais você?
Ficou muda e sumiu,
De repente,
No ar...
Fugiu como quem vê o diabo
E me renegou à solidão desta vida infame
Porque sem você os dias são mais cruéis
As horas custam a passar
O meu alento é te chamar
Clamar por você numa canção muda
Feita apenas de gemidos...
A poetisa calou-se. O pranto rompe as cadeias da dor
Exala perto de si o cheiro fúnebre
Ouve-se o cortejo da morte
E o sino da Igreja badala...
Uma...
Cai a lágrima
Duas...
A dor aguda
Três...
Fecho os olhos
Quatro...
Sinto o gosto salgado
Cinco...
Mordo os lábios
Seis...
Um soluço
Sete...
Aperto-me em meus braços
Oito...
Estremeço
Nove...
Abro os olhos
Dez...
Tudo escuro
Onze...
Suspiro
Doze...
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