L’Étoile
(Fragmento da “Κατάβασης”)
“The star which rules thy destiny
Was ruled, ere Earth began, by me;
It was a world as fresh and fair
As e’er revolved round sun in air;
Its course was free and regular,
Space bosom’d not a lovelier star.
The hour arrived – and it became
A wandering mass of shapeless flame,
A pathless comet and a curse,
The menace of the Universe;
Still rolling on with innate force,
Without a sphere, without a course,
A bright deformity on high,
The monster of the upper sky!”
(Byron, MANFRED)
E, fosse mesmo real ou uma ilusão,
Toda aquela cena se desfez prontamente.
Outra vez tomou-me o diabo pela mão,
E com um sorriso grotesco, repelente
A deformar-lhe mais o semblante odioso,
Pôs-se a encarar-me nos olhos, fixamente.
Eu nada respondi a seu gesto, medroso;
Mas, talvez por ver o que queria ver,
Rasgou o silêncio com um riso maldoso.
“Tarde é para pensar em se arrepender!”,
Disse, enfim, meu inconveniente, aziago guia.
“Há uma coisa mais que devemos fazer.
“Vejamos, longe, o astro que o alumia:
Quem dera poder fazê-lo no passado!
Vendo-o agora, não o reconheceria.
“Sob os auspícios dum Gênio bom beijado,
Seu brilho, segundo Sol, pressagiava
Comungar perfeitamente do sagrado
“Intelecto d’Aquele que o apascentava –
E em gratidão eterna a seu Criador
As glórias de Seus atos em hinos cantava.
“Ah! E quão delicioso era – que primor
Ouvir pelos confins do cosmo a ecoar
Os hinos tão belos de exímio cantor!
“Mesmo Israfel, de coração a palpitar
Tal qual as cordas de um luth melodioso,
Estancaria, mudo, para o escutar.
“O Fado é, porém, volúvel e caprichoso –
Guiado, talvez, por equívoco fatal
Distanciou-se de seu Criador bondoso
“E, seduzido pelas promessas do Mal,
Submeteu-se à Serpente e a abraçou
Em amplexo que se provaria mortal.
“O antigo brilho, desde então, se apagou:
As cordas plangentes da lira harmoniosa
Uma a uma rompeu – silente se quedou
“Afora do que fora a nênia lamentosa
Repetida semper eadem – mas em vão
A sotto voce – tênue, tímida, chorosa.
“O próprio existir lhe é uma maldição,
Singrando as plagas da Via Láctea, errante,
De todo o Universo a abominação!
“Tal qual um funesto cometa flamejante
A carregar consigo um imenso poder
E presságios dum cataclismo angustiante,
“Belo em sua desgraça pode parecer…
Belo – e tão fatal – como a fúria de um deus
Ou o último suspiro antes de fenecer.
“Mas que o veja com os próprios olhos teus;
Será demonstração muito mais proveitosa
Do que todos estes circunlóquios meus.”
E comprimi na minha aquela mão nojosa
Que, com incessante aversão, segurara
Até então; sua gargalhada asquerosa
Outra vez a infinda imensidão rasgara –
E, quando menos percebi, já alteráramos
O curso que eu até ali tomara.
Céleres, ao Signo do Leão chegáramos;
Fazendo jus ao nome, majestoso
Refulgia no espaço. O contempláramos
Quedos, até o diabo, imperioso,
Despertar-nos do encanto prontamente,
E assim segui em seu encalço, temeroso.
Devorei com meu olhar, avidamente,
Aquela inimaginável legião de estrelas
A ostentar seu fulgor orgulhosamente;
Para meu espanto, vi que todas elas
Por algum tipo de anjo eram regidas,
Sendo algumas mais, e outras menos, belas.
“Cada um destes astros encerram vidas,
Seja dum nobre, ou dum rude vilão,
Desde o princípio por Deus preconcebidas.
“Já rompendo o cárcere da gestação,
Todas pelo Pai previdente são marcadas
Por Sua bênção – ou por Sua maldição.
“Se o pudesse, veria as almas execradas
De quem, unicamente para sofrer,
Viera ao mundo – suas nucas pisoteadas
“Por quem, ditosamente, pôde nascer
Em meio ao chiqueiro de perlas da Fartura,
Assim podendo aos subordinados reger.
“Ah…! Existir é uma sina, e sina dura!
Mas Deus tem lá, não nego, sabedoria –
A intenção vale se é, ao final, boa e pura…”
Assim ia dizendo, em macabra ironia,
Aquele demônio que o Destino escolheu
Para servir-me de custódio e vigia,
Até que a distância algo viu – se interrompeu
E, um dedo ossudo ao horizonte apontando,
Proclamou: “Nosso destino diviso eu!
“Só mais um pouco; vamos nos aproximando
De TUA estrela – a triste estrela malfadada
Senhora de teu destino miserando!”
A paisagem tornava-se mais desolada,
Sem mais astro amigo para iluminá-la,
Emanando gélida aura triste e pesada;
Era quase como se fôssemos buscá-la
No centro de um Hades infernal, escuro,
Onde por force majeure mandaram exilá-la…!
Até que, finalmente, aquele astro perjuro
Em meio à tétrica vacuidade surgiu,
E que regia meu passado e meu futuro.
“Cá estamos!”, o importuno diabo sorriu.
“Façamos a experiência ser de grã valia;
Preste atenção!” E meu olhar dirigiu
Ao astro, que um brilho infausto emitia
Envolto em trevas, à mercê da solidão:
Em triunfo tenebroso no Éter se erguia,
Assemelhando-se, em minha imaginação,
Ao Anjo do Mal, decaído e orgulhoso –
Estátua verossímil da Rebelião.
Sentava-se acima do orbe luminoso
Um anjo – o Gênio que me fora consignado,
Num estado deplorável, lastimoso.
Pelas asas trazia o rosto ocultado,
Como se a vergonha o acabrunhasse
Ou, por alguma dor secreta torturado,
Mais nada ou ninguém a ele lhe importasse
Afora a mágoa que seu peito consumira,
Ansiando que por ela rápido expirasse.
Numa mão pendente trazia uma lira