Caixinha

O rei, assentando ao seu trono

Após caminhar sobre teu reino destruído

Segurou por pouco sua ânsia

E desejou consigo ter morrido.

Segurava com ele uma pequena caixinha

Que encontrara em uma de suas andanças

Naquele reino que, agora vazio e fúnebre

Já lhe tinha sido motivo de muita esperança.

Nesta caixinha empoeirada e desgastada

Encontrada em uma casa há muito esquecida

Estava seu coração, agora já murcho e negro

Mal recordando um dia ter tido vida.

Já idoso e exausto, com seus mantos finos e sujos

Com sua coroa trincada, de mãos trêmulas e frias

Traçava seus olhos cansados por cada linha

E lembrava de cada pulsação de seus passados dias.

De quando aquele coração a ritmos pulsava

De quando o reino era colorido e belo

De quando ainda era um jovem apaixonado e confuso

De quando sua amada alegrava aquele castelo.

Uma lágrima teria lhe escorrido a face enrugada

Se pela bênção do acaso ele pudesse ter chorado.

Com os dedos finos, apanhou com firmeza o coração

Enquanto com a outra, jogava suas vestes de lado.

No peito, o doloroso e negro furo ficou exposto

E caridosamente ergueu seus braços em sua direção

Ancioso e amedrontado, hesitou por um instante

Mas tão rápido quanto hesitou, colocou lá seu coração.

Momentos lhe pareceram séculos

O silêncio, facadas aos seus ouvidos

O vento, a respiração da morte em pessoa

Nunca lhe doera tanto manter os braços erguidos.

Segundos, minutos, horas se passaram

Lamentando, ajoelhou-se o rei no chão

Fraquejando, acabou caindo de lado

E triste viu o coração rolar pelo escuro salão.

No chão gélido e empoeirado ficou

Observando aquilo que um dia foi seu

Com sua coroa quebrada jogada de lado

Abandonado no reino que sozinho ergueu.

E lá eternamente sofreu.

Victor Sama
Enviado por Victor Sama em 06/02/2014
Reeditado em 06/02/2014
Código do texto: T4680063
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