Caixinha
O rei, assentando ao seu trono
Após caminhar sobre teu reino destruído
Segurou por pouco sua ânsia
E desejou consigo ter morrido.
Segurava com ele uma pequena caixinha
Que encontrara em uma de suas andanças
Naquele reino que, agora vazio e fúnebre
Já lhe tinha sido motivo de muita esperança.
Nesta caixinha empoeirada e desgastada
Encontrada em uma casa há muito esquecida
Estava seu coração, agora já murcho e negro
Mal recordando um dia ter tido vida.
Já idoso e exausto, com seus mantos finos e sujos
Com sua coroa trincada, de mãos trêmulas e frias
Traçava seus olhos cansados por cada linha
E lembrava de cada pulsação de seus passados dias.
De quando aquele coração a ritmos pulsava
De quando o reino era colorido e belo
De quando ainda era um jovem apaixonado e confuso
De quando sua amada alegrava aquele castelo.
Uma lágrima teria lhe escorrido a face enrugada
Se pela bênção do acaso ele pudesse ter chorado.
Com os dedos finos, apanhou com firmeza o coração
Enquanto com a outra, jogava suas vestes de lado.
No peito, o doloroso e negro furo ficou exposto
E caridosamente ergueu seus braços em sua direção
Ancioso e amedrontado, hesitou por um instante
Mas tão rápido quanto hesitou, colocou lá seu coração.
Momentos lhe pareceram séculos
O silêncio, facadas aos seus ouvidos
O vento, a respiração da morte em pessoa
Nunca lhe doera tanto manter os braços erguidos.
Segundos, minutos, horas se passaram
Lamentando, ajoelhou-se o rei no chão
Fraquejando, acabou caindo de lado
E triste viu o coração rolar pelo escuro salão.
No chão gélido e empoeirado ficou
Observando aquilo que um dia foi seu
Com sua coroa quebrada jogada de lado
Abandonado no reino que sozinho ergueu.
E lá eternamente sofreu.