Versos e Vinho no Cemitério
"Oh! Love! How perfect is thy mystic art,
Strengthening the weak, and trampling on the strong!"
(Lord Byron, Don Juan; Canto I, CVI)
I
Pressinto em meu porvir apenas trevas...
São sombras o meu fado!
Mas, ó amada, inda viso fulgores,
Quando estás ao meu lado!
Se vivo é por ti, pela poesia
E pelo elíseo vinho.
Amemos neste velho cemitério,
Ó meu pálido anjinho!
Tocas o teu lâmure violino
Sob o luar celeste,
Em meio aos túmulos frios dos mortos,
Em mortuárias vestes...
Os mortos ouvem... ouvem e se enlevam!
Além da canção tua
Ouve-se apenas fúnebre silêncio
Sob o olhar da Lua...
Aquietas a tua triste música
E versos meus eu leio:
Soluças! Não sei se é dolência ou júbilo
O que jaz em teu seio!
Porém, logo sorris bebendo vinho;
Beijo-te e também bebo!
E no anoitecer tétrico sorriem
A donzela e o mancebo...
II
Amemos! Sim, amemos toda a noite!
Mas por que em tal longevo cemitério?
Ora, fitemos cada sepultura,
Cada flor, cada nome, cada foto!
Faz-nos memorar como fugaz passa
A vida e sua efêmera ventura!
Talvez — quem sabe — façam-nos saudade
Mesmo as lágrimas tantas de tristeza
Que tornaram um dia nossa alma escura!
Oh, afinal, que triste é lembrar-se
Do passado: dos bons ou maus momentos!...
Amemos, pois, enquanto a vida dura!
III
Ah, mui doce é estar com quem se ama
E observar estrelas!
Queimar-se no amor e suas chamas,
Sem jamais temê-las!
Sorrir ante as sepulcrais estátuas
Em febris delírios!
Ver o quão pode a morte ser fátua...
Como para os lírios!...
Suspirar de languidez e amor,
Meigo e taciturno!
Sentir das flores murchas o odor
Ao ventar noturno!
Oh! amável solidão a dois
É contigo estar,
"Olhando para o antes e o depois
Sem mesmo piscar."
Pudesse, querida, assim a vida
Para sempre ser:
Ter-te em meus braços adormecida,
Contigo morrer...