O Último Suspiro da Donzela
"Ai! que mais esperava neste mundo
No acordar da ilusão,
Sentindo a horrível aridez da vida
Gelar-lhe o coração!?"
(Barão de Paranapiacaba)
I
Vagueava a donzela noite a dentro,
Em suas brancas vestes,
A pele pálida, e os cabelos negros,
Negros como ciprestes;
II
Triste! — ela lamentava ter nascido:
Chorava amargo pranto!
Triste! sonhara um viver de amores,
Em onírico encanto;
III
Ah! mas a vida amostrou-lhe do mundo
A ingente escuridão!
E os seus cândidos sonhos d'inocência
Desvelaram-se em vão!
IV
Ela vagava... acaso em busca de algo...
E talvez da verdade...
E o que é mais verdadeiro que a morte,
— replena liberdade — ?
V
Ao aproximar-se de um abismo,
Cismava tristemente:
"Ó Vida, o que és, além deste nada
Sombrio e decadente?
VI
Não sei... mas não mais desejo viver,
Pois mi'alma já não vive;
Foram todos tristíssimos e em vão
Os momentos que eu tive."
VII
Ela cismava como o "Manfred" de Byron,
Em profunda tristeza;
Porém trêmula jazia su'alma,
Absorta em incerteza...
VIII
O livro de sua breve existência
Na mente folheava,
Percebendo logo que cada folha
Ainda em branco estava...
IX
Queria morrer, mas temia a morte...
Até que... escorregou...
Quando caía, um lâmure suspiro
De su'alma ecoou...
X
Não sei o que ocorreu à pobre moça
Após a sua morte,
Nem se lhe choraram a não vivida
Triste vida sem norte,
XI
Mas gosto de pensar que ela encontrou,
Enfim, a paz sonhada,
E os seus lacrimosos sonhos de amor
A tornaram amada...