FACE DO DESTINO
Não vou me encontrar com o Diabo
em nenhuma encruzilhada,
sou um fora-da-lei e sei
que pactos não me levam a nada.
Já me encontrei e me perdi tantas vezes
oculto pela névoa da noite, tão profunda
e tão densa, impenetrável, tal qual minha alma...
...teus olhos em fogo, todo esse jogo,
já não me roubam a calma.
E meus olhos frios brilham como o fogo
na escuridão da face do destino,
do mundo ingrato, que só dor nos dá
e eu não me rendo e não faço o jogo
vil, ferino e incauto em que você está.
Sem saída, encurraladas, já não resta esperança
para as pessoas, que não acordam mais
ao se levantarem de manhã
e se deixam levar por esse rio de ilusões
que ao primeiro paladar é doce como o mel,
mas ao final se revela tardiamente ácido,
torpe e amargo como o fel...
É a perdição desse mundo alucinado,
alucinante, sem sentido e sem direção,
turbilhão de loucuras que devora e engole a humanidade,
regras, apenas regras que valem mais que as pessoas
e depois de algum tempo
já não prestam pra mais nada.
A não ser para mostrar
que tudo não passou de loucuras
e dizer aos maiores sábios
que eles não passam de tolos
tentando dominar forças
que eles não compreendem
e não têm a menor chance
frente a elas, pois o tempo passa,
atropela a tudo e a todos,
soberano, imutável, incontrolável,
sem respeitar leis, nem regras
e nos julga e nos condena
e ao final nos absolve
aniquilando e absorvendo nossa tosca matéria,
o frágil corpo no qual
todos nós somos prisioneiros.
O tempo é DEUS oculto no invisível,
na encruzilhada do UNIVERSO,
por detrás dessa força que nos pressiona
e nos arremessa e nos arrebenta
contra a tênue parede do fim,
o nosso fim, a única certeza
que nos resta dessa vida
pois o que vem depois
aqueles que realmente sabem
não podem dizer.
Não vou me encontrar com o Diabo
em nenhuma encruzilhada, hoje não,
nem darei tiros através da noite
apenas seguirei quieto minha estrada
e não fugirei daquilo que me persegue.
Não vou me encontrar com o Diabo
em nenhuma encruzilhada,
não nessa noite em que a lua brilha
como um sol azul, frio, noturno e silencioso...
...mas não lhe mostrarei medo algum
se acaso ele me encontrar
nessa minha caminhada.
Eu o conheci, baby e eu vi sua face,
mas eu não tive medo
não ri e nem levei a sério
fiquei na minha e nem quis pensar
se é bela ou horrível,
se é feroz e terrível,
não me assusta e nem me causa desatino...
Eu vejo sua face baby, sim eu vejo,
mas eu não tenho medo,
não me causa desatino,
eu vejo baby, claramente,
no espelho do tempo
a intrépida face do destino.
ROBERTO CARLOS BRAZ DO NASCIMENTO
(ROBERTO BRAZA)
05/12/2007