IV
A minha Terra como tem palmeiras,
Perobas, Paus-brasil, Jacarandás,
As nossas pradarias altaneiras
Escondem majestosos sabiás...
Aqui se vive mais alegremente
A fauna, a flora – tão paradisíacas –,
Transmite a paz, a calma tão silente,
Que não se encontra em versos elegíacos...
Tem Amazonas, tem o Pantanal,
E aquela Mata Atlântica altiva –
Coberta de bromélia, sempre mais voltar –,
Faz do país beleza sem igual...
Aqui todos os que chegam se apaixonam –
Sim, tanto que não querem mai voltar
As paisagens belas os impressionam
Os banhos de cascatas e de mar...
Aqui tem tantas pedras preciosas
Também há muita história pra se ler
Há frutas, flores, doces, tão cheirosos
O clima encantador nos dá prazer...
O samba alegre e tão contagiante
A bossa nova – um privilégio nosso –
Eu posso dizer isso – sim eu posso –,
Encanta o mundo afora num instante...
Aqui é o país do carnaval
Telenovelas e do futebol,
Nação guerreira – fora do normal –
Trabalhadores que não teme o sol...
Um povo que possui uma fé imensa
Regada àquelas grans superstições
Dos índios aos orixás – ai quanta crença
Formando assim perfeitas uniões...
Pra se viver aqui tem que ser bom
E ser humilde e ter simplicidade
E não adianta ter contrariedade
Na Terra Prometida busque o dom...
Eu quero lhes dizer meus bons senhores,
Que um país assim nunca existiu
Tão cheio de fartura e primores
Mas isso é só um pouco do Brasil...
V
Brasil é campeão da violência
E da desigualdade social
Um fingimento fora do normal
Têm dois elevadores – que indecência...
Os pobres, miseráveis – coitadinhos –
Trabalham tanto, tanto – como escravos
São bélicos, guerreiros, muito bravos
Que sonham serem ricos, com carinhos.
Aqui, meu Deus, se cobra tanto imposto
Mas nunca vemos, quase, onde se aplica
O capital, ninguém, ninguém explica
O povo busca vida – não desgosto...
Meninos que trabalham com carvão
Colhem tomates, raspam mandiocas
As casas são taperas ou são ocas
E sonham ser saudáveis – não malsão...
Morar num bom lugar aconchegante
E ter comida, ter bons alimentos –
Sim, querem ser felizes uns momentos,
Não podem nunca, nem por um instante...
Ó meu país tão rico – mas tão pobre
Tu és confuso sim contraditório
Um povo hospitaleiro e tão simplório
Merece uma linhagem bem mais nobre.
A prostituição de adolescentes –
Oh! Pobres cinderelas das areias –,
Os sofrimentos pesam-me nas veias
Ao ver aqueles homens tão decentes.
Até pais de famílias e cristãos,
Vovôs e velhos néscios e doutores
Meu Deus não pode ser também pastores –
A nossa ira está em Suas mãos!...
Ai quanta podridão nesse País
Não creio que inexista coisas boas
Eu sinto dó de todas as pessoas
Qu’ainda não conheceram ser feliz...
24/10/97 – 19/11/98