Conseqüências...
A gente finge dormir
Para não ver a vida passar.
A gente finge não entender
O que não quer explicar.
Fumaça, círculos,
Trilhos,
Fiel rotina de muitos,
Sufocam a cada dia
O pouco que se deveria dar.
Atrasam, em cada um,
A capacidade de amar.
A hora que passa e não volta
A falta que faz a revolta;
O não-poder que oprime e manobra;
O não-receber que deprime e desaprova
Os poucos reflexos ainda latentes,
Ainda existentes no fundo do ser...
A gente finge conformar,
Para não ter que aceitar
Que não é possível lutar
Só pelo prazer de vencer.
E então passa a perceber
Que há razão, também, no sofrer,
Que na dor, também, há porquê.
Sofre, espera, luta e passa
É a cantiga que ultrapassa
Os limites da mente consciente
Os motivos do semidormente.
Passa, espera, luta e sofre
E, ainda que se desdobre,
Há, sempre, um aquém no final da etapa,
Há, sempre, um senão no limiar da escalada...
E eles existem porque faltou
Um passo a mais, lá no inicio,
Um pensar a mais com compromisso,
Um calar a mais, sem ser omisso.
Mas eles não são intransponíveis.
São, até, reconhecíveis.
O que exigem é o despertar,
É o agir, é o não-abandonar.
É a coerência dos instantes,
É o reconhecer confiante,
Sem desvalorizar, sem subjugar,
Num perfeito co-participar,
Num real co-habitar.
cmc