O baú do lixo

Olha que curioso, ouço um som distorcido

que sai do meio daquela montanha de lixo...

Vejo fumaças e algo a queimar imutavelmente...

Agora é o cheiro putrefato dos objetos que

se desmancham sobre a "manta negra", e que

estalam suas fagulhas ao ar como se quisesse

ganhar vidas.

O sol está se pondo, o lixo continua efervescente.

Insolventes pessoas se retiram às escondidas...

Olho para o lado e vejo um saco de lixo aberto...

Leio algumas noticias velhas; jornais, revistas, livros...

Já foram lidas anteriormente por pessoas que

vivem realidades bem diferentes... Hoje são apenas

lixo!

Opa! Uma carteira de couro. Que pacote é esse?

Vejam só, camisinhas, meia de seda ... Pessoas

que se amaram, se degustaram... Acredito que,

por um instante foram felizes... Seus prazeres

transformados em lixo!

E a fumaça continua. Meus pulmões estão

cheios, sufocados... Estou tonto, preciso de

algo que me faça suportar. Hum! Balinhas

coloridas aqui, deixa ver... Gostoso!

Essa juventude... Consumidoras de lixo!

Meu Deus! Esse pacote aqui há uma arma,

um punhal azul... Deixe-me fechar, pode

ser de algum criminoso escondendo a prova

do crime... Isso é lixo!

Acho que tô doidão! Tô doidão!

Um mendigo me oferece “água”:

- Posso tomar esse ultimo gole?

Ufaaaa! Obrigado amigo!

Será que és feliz? Não sei, mas é humano!

Segue seu caminho em zique-zaque, algumas

moedas no bolso, no outro bolso, pendurado,

um velho relógio que não funciona mais...

Estou ficando cada vez mais louco!

Estou até vendo voar um monte de coisas;

abotoaduras, anéis, óculos, espelho...

Ei espelho, volte aqui! quero me ver

pela ultima vez...

Como sou repugnante, iguais aos tantos

outros que, indiretamente estão aqui, ali,

espalhados por aí, sobre essa montanha fétida

de mentiras e verdades, choros e risos,

desrespeitos e esperanças, egoísmos e caridades,

angustias e prazeres, vidas e mortes.

O verdadeiro lixo não são esses objetos

sujos, velhos e corrosivos, e sim a mente humana,

baús de pensamentos sujos, que polui a alma

e destroi o mundo.

Li certa vez num caminhão de lixo:

"Somos o que comemos, o que produzimos

e sei lá mais o quê"!

Chega de consumismo, chega de iverdades

chega de lixo.

Aquela plantinha solitária pede por socorro.

Ela só quer respirar um pouco de ar puro... Eu também!

Dê-me esse punhal, vou encontrar com meu amor!

Sérgio Russolini
Enviado por Sérgio Russolini em 22/04/2008
Código do texto: T956897
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