O garoto de Karachi (Um pedido de paz)
O caminho da escola era seco e grande
A bicicleta já meio velha teria de andar muito ainda
Mas ele não se importava
Altivo e jovial
Agora ele também amava
E como todo bom amante
Afundou em pensamentos loucos
E deixou de ser aquela criança falante
Aquele beijo
Naquela tarde colorida no parque
Só de pensar o corpo estremecia em delírios
Distraído, o garoto seguia.
E ia cantando pelo curioso mundo dos sonhos
Como se fossem bolhas de esperança explodindo
O risonho garoto ia seguindo
Na passagem pelo mercado do bairro ao ar livre
O cheiro das verduras e da carne frita
Enchiam o ar por onde ele passava
Mas nada disso o garoto notava
Ele andava, e em pensamentos viajava.
Infelizmente não notou também quando o primeiro tumulto começou
Só despertou quando aquela sirene soou
E cortou o ar junto aos gritos
Nesse momento o feitiço acabou
Logo veio a segunda explosão
Algo estava acontecendo
E o mundo do garoto foi rapidamente morrendo
Como uma flor jogada em uma nuvem de gás
Murchando
A primeira intenção foi fugir
Mas não havia lado seguro para seguir
Nessa fatídica hora ele friamente percebeu
Entre lágrimas e soluços
Que o mundo que estava reservado a ele
Não era aquele dos sonhos
E sim um que se perdeu
Nessa hora mais um atentado ocorreu
A lágrima deu lugar para a surpresa
E quem gritou dessa vez foram os olhos
Um grito de silêncio
A bicicleta ficou intocada, testemunhando o ocorrido.
A desilusão e a morte levaram qualquer pensamento para longe
O sonho daquele simples garoto de Karachi virou desesperança
A bicicleta e o sangue ficaram com ele na lembrança
Apagadas nas memórias perdidas de ninguém