A parteira da miséria não nasceu ontem
O que lhes sobra nas bolsas
O que consomem à farta
Olhos aliviados das mazelas
São todas sobras de ganhos
Do descaso de alma e amor
Há nas burras tanta dor
Quanto sangue há nas guerras
Ter o que falta a outro
É travo amargo, dissabor
A miséria que há vem de onde
Se fabrica, produz e amealha
nos depósitos ratos se fartam
do tanto que a gente esfaimada falta
Se a mercadoria é doada, entanto,
Queda-se o consumo não pago,
pára a roda tenaz da mais-valia
parideira da miséria, parteira
da exploração que engendra
Não fica em paz o coração,
Apenas aliviado pela esmola.