Prisioneiro

Sinto-me preso.

E cada vez mais o cárcere

torna-se menos apertado.

Porque o crime que cometi

ninguém quer cometer.

Cometi um crime grave:

não aceito crianças nas ruas.

Cometi um crime absurdo:

não gosto da corrupção.

Cometi um crime sujo:

não sou alienado.

Sinto-me preso.

E cada vez mais o frio

esfria o calor.

Porque até o calor enfraquece.

Sinto-me como um preso

injustiçado que grita,

que sofre , que chora ,

que cala...

Sou um

eles são dez.

Entregar-me?! jamais!

eles têm poderes

Eu tenho esperança.

eles calculam

Eu sensibilizo.

eles vencem

Eu aprendo.

eles riem

Eu choro ...

Sinto-me preso .

A hipocrisia domina.

O menino sujo não tem culpa

de ser sujo.

O menino vende bala para viver.

Um dia esse menino

também vai querer bater.

O que fazer então? pensar.

Olho para os lados:

ninguém.

Olho para frente:

a grade.

E no além grade

uma mistura de sujeira

e limpeza manchada .

Olho para trás:

um espelho.

Então vejo uma lágrima.

Ajoelho-me , clamo por liberdade.

Mas não posso ser livre

Condenaram-me à pena de morte

porque gosto de ser honesto.

Essa prisão daqui é eficiente.

Não tem rádio , não tem TV ,

não tem internet.

Tudo para isolar o prisioneiro.

E para não deixá-lo sozinho

no fundo há um espelho.

Mas quem mata , quem rouba ,

tem rádio , tem TV ,

tem internet.

E sozinho ele não fica

nunca.

Para visitar é só pagar

e para libertar... "ah meu Pai!!!"

também é só pagar.

Sinto-me preso

Quando isso vai acabar?

Isso precisa acabar.

Preciso ser livre ...

Mas como ? se há algum

tempo o poeta já dizia :

" somos desiguais

e queremos ser sempre desiguais

somos bonzinhos benévolos..."

Quanto pessimismo impregnado

nas palavras

E é desse ceticismo que

se faz minha prisão.

Rafael Rezende Da Costa
Enviado por Rafael Rezende Da Costa em 30/12/2005
Reeditado em 11/08/2009
Código do texto: T92058
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