Sapatinhos de verniz
Tapete cinza, janelas embaçadas
Cortina verde-oliva, estantes de madeira
Um menino jogando bolinhas-de-gude
A porta entreaberta, luz de tarde
A fumaça dos cachimbos é de prata
Tudo é tão burguês
Onde estão os passarinhos e as pipas?
Os criados, medíocres, levam a vida
Em meio ao frio do ambiente
Velhos banqueiros jogam cartas
Não chove; a água secou
Assim como as lágrimas
Do guri das bolinhas-de-gude
Ele é tão solitário
Criou-se longe da mãe
Cativo em um rico internato
Veste roupas muito sóbrias
Que castram a leveza da infância
É assim a vida de elite
Tem-se tudo à disposição
Mas nada que repare a frieza
Da realidade de uma criança triste
E da indiferença de um adulto clássico.