A MÃO ESQUERDA DE MEU FILHO
Sinto medo de mim mesmo
quando meu punho esquerdo
levanta-se sobre minha cabeça.
Sinto medo por tudo o que me cerca,
família pobre, digna,
meu velho pai,
sessenta e quatro anos e
a neve absurda do tempo.
Seu coração imenso
e angustiado por seu filho,
buscando horizontes.
Sinto medo de minh’alma
– indignada –
meu povo pelas calçadas
dormindo ao relento
e nos olhos dos lúcidos
um grande ponto de interrogação.
Sinto medo por minha mulher e meus filhos,
estes,
a quem desejo temam nada,
pois este é o dever do pai.
Sinto medo por meus amigos poetas,
estes
que tem compromisso com o seu povo,
e vivem
recriando a vida,
lutando por um ideal,
por justiça social.
Sinto medo por minha cabeça
tão cheia de sublimes ideais
e quem sabe se realizáveis?
Sinto medo por meu filho varão,
que chora os seus sete meses
e crispa ambas as mãos
como se estivesse a dizer:
– Sou forte!
Enfim, descubro
que nesse fim de linha
entre o nascer e o morrer,
angústias, esperanças e
desejos insatisfeitos
são da natureza
do próprio homem!
– Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 94:5.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/904891