CLANDESTINO

Sou um clandestino foragido em meu próprio país

Embora digam que sou livre e igual....

Mas também disseram que eu deveria me alistar...

E me reservaram cotas na universidade

Meus ancestrais vieram na 3ª classe de um navio mercante

E os outros foram dizimados pelos bandeirantes

Mas na escola me falaram em heróis e em abolição...

E me ensinaram a rezar e a cantar...

Nas prateleiras dos supermercados há tudo que” necessito”

Mas por ironia não posso comprar nada

Então o presidente diz que a economia cresce...

Ou manda soldados e alimentos para o Haiti.

Enquanto isso bala perdida na terra do carnaval

Fome e malária na terra do futebol

Apagão aéreo na terra do mensalão...

E tudo acaba em pizza no país da feijoada.

Os outdoors parcelam sonhos em até 36 meses sem entrada

E a televisão me diz o que devo beber ou vestir...

E ainda por cima tenho que sorrir

Porque afinal de contas estou sendo filmado.

Na universidade sou comunista, existencialista, anarquista, "badernista"...

Meus professores afirmam que Marx está superado...

Tenho até alguns simpatizantes mas, ninguém quer se expor

Porque a moda é passar em concurso e ser burocrata

Sou livre pra ir e vir por todo território nacional

Mas não tenho dinheiro nem pro aluguel

Apenas algumas teorias e um velho ideal

E sei algumas canções de Bob Marley

Sou um clandestino e “inimigo” do Estado

E todo mundo diz que é inútil... lutar

E que meus heróis estão mortos ou... no poder

"E que é normal. O Mundo sempre foi assim"...

Aí eu gosto de ouvir uma velha canção tropical

E choro baixinho pra ninguém ouvir

E escrevo uns versos ou uma carta suicida

E chamo por minha mãe e por meu pai...

Estou exilado em meu próprio quarto

Clandestino foragido em meu próprio país

A polícia está a minha procura! Ao meu encalço!

Rasga este poema! Diz que não me conhece.

"Sou muito perigoso, porque sei de mais."

O Clandestino
Enviado por O Clandestino em 15/03/2008
Reeditado em 15/03/2008
Código do texto: T902432