Ó pátria desamada
Quando estiver andando
(Pelas ruas nuas, cruas, sujas e tristes da cidade
Sob um céu sem lua ofuscada por nuvens tempestivas)
Tentarei sorrir
Mesmo se alguém me estenda as mãos
(Com cheiro de cola, pedindo esmolas, sapato com sola
Sem escola)
Tentarei fazer um poema de amor
Quando abrir o jornal do dia
(Ver as desgraças, mortos na praça, preconceitos de raça
Ô vida sem graça)
Tentarei não chorar
Ao ver algum governante num carro gigante
(Cartões corporativos, créditos ativos autobeneficentes,
companheiros de georges, hugos e ivos)
Tentarei não acenar apenas com o dedo médio
E se eu estiver no ponto de ônibus
(Um tiroteio, no abdômen em cheio uma bala no meio
Minha vida paralisar)
Tentarei pra minha mãe ligar
Ó pátria desalmada
Índole maltratada
Nos salve, salve!