Ó pátria desamada

Quando estiver andando

(Pelas ruas nuas, cruas, sujas e tristes da cidade

Sob um céu sem lua ofuscada por nuvens tempestivas)

Tentarei sorrir

Mesmo se alguém me estenda as mãos

(Com cheiro de cola, pedindo esmolas, sapato com sola

Sem escola)

Tentarei fazer um poema de amor

Quando abrir o jornal do dia

(Ver as desgraças, mortos na praça, preconceitos de raça

Ô vida sem graça)

Tentarei não chorar

Ao ver algum governante num carro gigante

(Cartões corporativos, créditos ativos autobeneficentes,

companheiros de georges, hugos e ivos)

Tentarei não acenar apenas com o dedo médio

E se eu estiver no ponto de ônibus

(Um tiroteio, no abdômen em cheio uma bala no meio

Minha vida paralisar)

Tentarei pra minha mãe ligar

Ó pátria desalmada

Índole maltratada

Nos salve, salve!

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 13/03/2008
Reeditado em 13/03/2008
Código do texto: T898958