PROMÍSCUO CREPÚSCULO
PROMÍSCUO CREPÚSCULO
Quando as portas do comércio de Prudente* se fecham
Abrem-se as portas de outro negócio.
As mercadorias não foram todas guardadas no estoque
Restam outras que estão do lado de fora das lojas,
Precisamente nas esquinas.
Elas, por isso, não estão seguras
Não há alarme se houver arrombamento,
Não há polícia se alguém se machucar.
Não haverá notícia no dia seguinte
Os jornais não tratam de prostitutas,
Não faz bem pra imagem da cidade.
O business é muito importante,
Aqui, a propaganda também é a alma do negócio:
São coxas, peitos e, para tanto, roupas mínimas,
Isso chama a atenção dos motoristas
Que por lá transitam acidentalmente,
É claro.
O movimento começa cedo,
Nem o escurecer tardio
Do horário de verão
Protela as transações.
Diferenças, enfim, são notórias:
Impossível o pagamento a prazo,
Sem débito automático...
Ah! Não aceitamos cheque, obrigada
Pela preferência.
Nas ofertas, encontram-se todo tipo
De matéria-prima, homens, mulheres,
Quase-mulheres, e, com alguma discrição,
Dinheiro alto e bons contatos, até meninas.
Neste shopping do sub-mundo,
O drive-in da Rua Gurgel
Não dispõe de cinema nem pipoca,
Mas tem droga, álcool e, em cartaz,
Traições conjugais, homossexualismo reprimido,
Fulminantes surtos de pedofilia.
Vender o corpo não é crime (ou mesmo contravenção)
As autoridades existem:
Quando presentes, são coniventes,
Quando não coniventes
São fregueses; e às vezes o Poder
Público, encarregado da saúde e segurança
[pública,
Não reembolsa a prestação de serviço.
A noite é feita feliz.
O sinal de satisfação
Está na partida das estrelas.
Findo o turno de revezamento,
É hora dos lojistas
Voltarem ao trabalho,
E das minhas meretrizes
Descansarem.
* Refere-se à cidade de Presidente Prudente - SP.