Mistura étnica

A mulher inverossímil

Os óculos que cegam

A imagem que ofusca e reflete

O horizonte que se acaba

Nas reticências do passado

arquiteta-se um mistério,

suas colunas em silêncio

continuam de pé.

Estatuetas em riste apontam

para um céu que não há

A ilusão de nossos avós

Sonhos banidos navegando

em imigração

Em tralhas e trastes

Um cheiro de saudade

Das vinhas de Portugal

de Alentejo,

de Trásdosmontes

O difícil dialeto banto ou sudanês

misturado com algaravia dos árabes,

negociando em mercado

Tapetes balançando

Balangandãs chacolhando

Uma música inacreditável

Olhos, passos e reza

O silêncio da atracação

O cais inerte aguarda

Os pés que conhecerão o futuro

Que construirão, que se misturarão

Conhecerão abismos e caminhos

Até que a exaustão

faça de nós um produto uno.

Alemães que fogem da guerra

Libaneses que fogem da guerra

Persas e hebreus que fogem

Da crucificação

quase diária dos seus

Haverá jeito?

De se conseguir a paz

Assim impunemente

Sem precisar fugir

De nossa própria natureza.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/03/2008
Código do texto: T892088
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