Mistura étnica
A mulher inverossímil
Os óculos que cegam
A imagem que ofusca e reflete
O horizonte que se acaba
Nas reticências do passado
arquiteta-se um mistério,
suas colunas em silêncio
continuam de pé.
Estatuetas em riste apontam
para um céu que não há
A ilusão de nossos avós
Sonhos banidos navegando
em imigração
Em tralhas e trastes
Um cheiro de saudade
Das vinhas de Portugal
de Alentejo,
de Trásdosmontes
O difícil dialeto banto ou sudanês
misturado com algaravia dos árabes,
negociando em mercado
Tapetes balançando
Balangandãs chacolhando
Uma música inacreditável
Olhos, passos e reza
O silêncio da atracação
O cais inerte aguarda
Os pés que conhecerão o futuro
Que construirão, que se misturarão
Conhecerão abismos e caminhos
Até que a exaustão
faça de nós um produto uno.
Alemães que fogem da guerra
Libaneses que fogem da guerra
Persas e hebreus que fogem
Da crucificação
quase diária dos seus
Haverá jeito?
De se conseguir a paz
Assim impunemente
Sem precisar fugir
De nossa própria natureza.