POESIA EM GUERRA
Causa-me mais nojo o perfume importado
Que o hálito excluído da barriga vazia
Um barraco de zinco, de papelão no telhado
É mais honroso que o palácio ostentado pela burguesia!
Os andrajos e trapos dos filhos da miséria
Têm mais luxo e beleza que a grife dos ricos
Apesar dos perigos da ausência que cozinha nas pobres panelas
A eterna desconfiança dos abastados tem muito mais riscos!
A escola da vida, onde estudam os bastardos da cidadania
Ensina bem mais que os colégios em mármore, da elite
A guerra por pão, que maltrata milhões a cada dia
Mata menos que a mórbida insensibilidade, que na minoria reside!
O sorriso fácil de quem tem razões tão somente para chorar
É mais valioso que todo ouro acumulado por quem nunca teve falta
A letra imprecisa dos heróis, sem chances de estudar
Escrevem melhor que a hipócrita caligrafia aristocrata!
É por isso que minha poesia navega com o vento e recusa a vela
Porque a voz dos mudos repousa na coragem dos letrados
Ela recusa o assédio da nobreza, mas acata o protesto da favela
Ela abraça o pranto sincero e ignora os interesseiros agrados!
Minha poesia será anônima e ínfima, se tiver que ser
Mas o travesseiro de seu poeta será canção de ninar à consciência
Porque na guerra contra a injustiça, também se luta no escrever
Posto que nessa abjeta batalha, perder é sinônimo de conivência!