POESIA EM GUERRA

Causa-me mais nojo o perfume importado

Que o hálito excluído da barriga vazia

Um barraco de zinco, de papelão no telhado

É mais honroso que o palácio ostentado pela burguesia!

Os andrajos e trapos dos filhos da miséria

Têm mais luxo e beleza que a grife dos ricos

Apesar dos perigos da ausência que cozinha nas pobres panelas

A eterna desconfiança dos abastados tem muito mais riscos!

A escola da vida, onde estudam os bastardos da cidadania

Ensina bem mais que os colégios em mármore, da elite

A guerra por pão, que maltrata milhões a cada dia

Mata menos que a mórbida insensibilidade, que na minoria reside!

O sorriso fácil de quem tem razões tão somente para chorar

É mais valioso que todo ouro acumulado por quem nunca teve falta

A letra imprecisa dos heróis, sem chances de estudar

Escrevem melhor que a hipócrita caligrafia aristocrata!

É por isso que minha poesia navega com o vento e recusa a vela

Porque a voz dos mudos repousa na coragem dos letrados

Ela recusa o assédio da nobreza, mas acata o protesto da favela

Ela abraça o pranto sincero e ignora os interesseiros agrados!

Minha poesia será anônima e ínfima, se tiver que ser

Mas o travesseiro de seu poeta será canção de ninar à consciência

Porque na guerra contra a injustiça, também se luta no escrever

Posto que nessa abjeta batalha, perder é sinônimo de conivência!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 23/02/2008
Reeditado em 30/01/2012
Código do texto: T872766
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.