Abutre da Selva de Pedra

Terei esta carne, ou o verme!

Oh, não me menosprezes,

Se teu filho virar minha presa

Sou tal qual tu, à espreita

Aqui, nesta selva de pedra

Prédios, solidões e querelas

Raivas, frustações, calçadas

Corações e almas? São nada!

Aqui do alto deste meu poste

Vejo a preparação da morte

Ei, não sabes quem me alimenta?

Suas vítimas são minhas presas

Ah, estas relações puídas

Sob a negra fumaça poluída

Que sufoca as tuas razões

E cega os olhos sem visões

Estas pistas, belo restaurante!

Preparam-me um bom "passante",

Barbeiros de carro, impunes

É o melhor dos “fast-foods”

Nestas casas, tijolos e ferro

Almoço, precedido por berros

Desonra e crueldade familiar

Tempero perfeito ao paladar

Voando raso, não me vêem

Não, a mim não receiem!

Sou só uma sobrevivente, vê?

Simbiose perfeita, eu e você

Humanidade, sou grata a você

Pasto livre, sou feliz, pois você

Nossa aliança nunca rompeu

Mas algo de grave aconteceu

Lagoas,rios, selvas e florestas

Verdes e feias, mas são nestas

Que meu banquete se alimenta

Tudo acaba se morrer o planeta

Assim, lhe peço, podem se degaladear

Mas destruir sua casa, não dá!