Filhos do Sertão

                                  


Filhos do Sertão

 

Uma mãe de sete filhos

Vê mais um filho morrer

E com esse é o quarto

Que morre por não comer

E dos olhos desta mãe

Lágrima não vai correr

Aqui quando morre um filho

É ver menos um sofrer

Aqui quando morre um filho

Sobra mais pra outro comer

Pra quem fica a morte é sorte

Chance de sobreviver

Aqui morrer é normal

Aqui morte é como vendaval

To falando do sertão

Do sertão esquecido

De um povo abandonado

Que aprendeu sofrer calado

E quando falo do sertão

Sempre me vem uma canção

Que é cantada lindamente

Pelo rei do baião

Quando olhei a terra ardendo...

A criança no sertão

Tem pouco acesso a escola

E quando tem onde estudar

Anda léguas sem parar

Sem merenda na sacola

De estomago vazio

O raciocínio pouco rola

Molecada abitolada

Até que tenta aprender

Mas como pode compreender

O que escreve,o que lê...

Se não tem o que comer

A fome ,fala mais alto

Que a tia na escola

Pra matar a sua sede

Disputam com animais

A poça de água com mijo

Com coliformes fecais

Comem calango cozido

Numa sopa bem aguada

E ficam  a Deus agradecidos

Por terem o que comer

Pois tem dia que nem sopa aguada

Tem para fazer

E apesar do sofrimento

Este povo,ainda tem fé

Valei-me meu padinho Ciço

Valei-me minha virgem santa

Valei-me meu Jesus cristo

Valei-me,que a fome aqui é tanta

Quando olhei a terra ardendo...

No campo do nazismo

Quando judeus ,lá morreram

Na onda tsunami,

Quantos foram afogados

Não mão dos terroristas,

Quantos foram dizimados

Nas mãos dos traficantes,

Quantos forram assassinados...

E na seca do sertão

Quantos pais seu filhos já enterraram?

Quantas mães por seus filhos já choraram?

Humildemente então pergunto

Até quando presidente?

Até quando senador?

Até quando deputado?

Até quando eleitor?

Que esse povo vai sofrer

Com a seca,com a fome

Sem chance,sem sobrenome

Sem teto,sem moradia

Sem futuro,alegria

Lutando no dia a dia

Contra essa puta covardia...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cássia Dias
Enviado por Cássia Dias em 16/02/2008
Reeditado em 30/04/2008
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