Não hei de ser eu
Não quero ser eu a abrir-te feridas,
Não quero ser eu a tirar-te a esperança,
Não te quero tirar o emprego,
Nem te quero esfolar.
Teu carrasco não quero ser,
Não te quero torturar,
Não vou matar os teus sonhos.
Se te prenderem, vou visitar-te,
Se ficares doente, manda avisar.
Quero-te vivo,
Aprendendo as duras lições
Que a vida mesmo se encarrega de dar.
Nasceste para a vida;
Não gosto da correção
Pela morte: já não há aprendiz.
Não escreverei anônimas queixas,
Contra ti não farei delações.
Mas escuta, amigo, o que por ti vou fazer:
Vou olhar-te nos olhos,
Falarei palavras comuns que, juntas,
Imporão tal gravidade ao discurso,
Que preferirás, talvez, apanhar.
Trabalharás por abrigo e pão;
O bem do teu semelhante será teu ideal.
Terás novamente limpo o teu nome, e a tua salvação.