MENINOS DE PEDRA
Caem gotas de ácido - uma criança na laje principal,
à noite, um penhasco, sem astro, sem estrelas, sem novela.
No turvo espaço, a cria ainda guarda lembranças
das brincadeiras, dos sonhos de menino que suas viagens
não mais lhe satisfaz, cansado, nada espera... ...
Um soldado faz um sinal: "Vem, um monstro no beco lateral".
Caem gotas de ácido - o fuzil ateado no calção.
Mais leve que um lápis, és atômico, sinestésico.
Seu corpo nada mais sente, anestésico,
enfermo, habita um outro mundo,
de diferentes silhuetas, nas formas pretas, em ilusão.
Rajadas de balas atravessam o coração
Caem gotas de ácido- um águia sobrevoa o galpão,
Quantos quilos de drogas vendidas,
Quanta beleza apagada, ó meu Deus,
quantas vidas perdidas!
Neste túnel de horror, ecos de mudas vozes ressoam... ... perdão.
O teu passado espelha essa grandeza,
ainda presente, procura abrigo nesta selva de feras,
Distante da brisa que refresca a uns e outros
de outras esferas,
cujas bravatas no peito se dissolvem pela mesa.
De manhã a pedreira acorda de olhos vermelhos,
em cana, enxofre, em lavras,
Um menino, filho da lama, das notícias imundas,
observa a polícia que passeia no entorno de águas profundas,
da sujeira agarrada nas pedras, embaixo dos canos,
arrastada ao longo dos anos.
Rajadas de metralhadoras, fuzis, granadas de sofrimento,
Estampidos de rojões dão o tom do "montrer",
As Marias, Madalenas, Josefinas não entendem
o porquê,
choro, lamento, tanto fizeram para criar os
seus filhos .. ... de cimento !
Nos espaços cinzentos, fétidos, entorpecentes,
um ritmo incandescente, lareira candente,
tranqüilizam o deserto dessas almas vagas,
Moribundos, adormecem em pisos enfaixados,
sobre os ombros os pentes pesados, em silêncio
a carregar teus fardos, e o corpo sofre duras penas
em pernas trêmulas, acessos frêmitos, em bagas.
Velas vermelhas acesas nas esquinas das vielas,
E mais um sonho se derrete em parafinas, nas favelas.
Meninos são arrancados das secas e seguras tetas
de tuas lindas e meninas mães,
e que lhas fizeram acreditar que tudo isso um dia termina,
um dia termina, em sangue, crack e cocaína.
Lobos, coiotes, se revezam na portaria,
e querem arrastar as narinas, roçar os dentes,
Sob o efeito da química , caem no chão,
palhaços ou cães doentes.
Magos, onde estão com seus discípulos
e a verdade desta alquimia ?
Neste estado de coisas, mutia gente de burguesia,
diz que não compreende porque tanta miséria,
Se escondem, perdidos, contaminados, viciados,
os risos pálidos , de pulha pilhéria.
Solidários clientes, outrora pacientes,
juntam sacos de esmolas e hipocrisia.
Há muita terra a plantar, tanta chuva a regar, e tanta
gente não quer amar !
Chega a hora da nota, quanta grana rasgada,
quantos tiros pro ar,
quantos mortos ao luar,
O sol continua a brilhar,
E os Meninos se esfarelam pelo ar.