COTIDIANO

Uma criança que sumiu,
Um homem bomba que se explodiu.
Alguém desejado que não veio,
Outro veículo que perdeu o freio.
O pedreiro que engoliu o parafuso,
A solidariedade em desuso.
O pão que se torna escasso,
O desequilíbrio no espaço.
O cansaço de tanto esperar,
O medo de fracassar.
Os descaminhos que levam à Brasília,
A pátria mãe sem filha.
Os desmandos inclassificáveis,
As hipocrisias intermináveis.
Manda mais quem tem mais.
E massagens no ego do povo - carnavais.
Mas não apagam as dores de tantos “silvas” e “souzas”,
Quem sabe um dia a justiça pousa?
Eu acomodado no sofá, a cadela faz sala,
Enquanto mais uma vida se cala.
Faz um pouco de calor,
Ligo o ventilador;
Sinto um alivio então,
E até canto uma canção;
Sem nenhum assombro,
“Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça,
Dando milho aos pombos...”