A sêca da justiça
Pinga água na torneira
fala o drama do nordeste
na cidade de cabaceira
morre-se de sede, fica-se em pele
Cidade fantasma do agreste
que a sêca a todos espantou
aqui tudo fenece
até a cisterna já secou
Água estocada em casas
porque de novo não choveu
carregada por anjos sem asas
que crêem na chuva de Deus
Diante da dor que passa
da vida no nordeste brasileiro
o homem vive sob à ameaça
de não ter água o ano inteiro
Não tem água onde tinha rio
tem a ponte, sob o solo em rachadura
é a imagem do mundo em desafio
sangrando em sua frágil armadura
Políticos em época de eleição
visitam esse povo tão sofrido
[prometem com a mão no coração
e depois tudo fica esquecido
São solidários aos conquistados votos
mas enganam os pobres dos fiéis
falam da fabricação de poços
como quem fala de seus dedos em anéis
SOS para o povo nordestino
que precisa de água pra sobreviver
povo que vive sem destino
esse é o castigo que não se faz por merecer.