TUDO POR UM FIO
Se ao menos entendessem
que um fio solto basta
para perder o novelo todo
— enquanto a vida se desgasta...
Que sem esse laço tênue,
uma lâmina fria e astuta
pode partir ao meio mundos,
como quem corta fruta madura.
Se vissem que o fio desencapado
não é dono do descaso alheio...
que o choque que queima um
é só o grito de um sistema sem freio.
Se soubessem quanto custa
— fio a fio, dor a dor —
tecer de novo uma cabeça,
ousariam puxar sequer um fio de fervor?
Se percebessem que o azeite
que banha um corpo em glória,
é a mesma gota que afoga
outra história, outra memória...
Se sentissem o peso do parasita
que corrói ideias como traça —
será que insistiriam em sugar
a luz que ainda, teima, queima em graça?