O ALIMENTO DA ÍNTIMA BESTA
Até os reis da selva, sábios e altivos,
recuam ante o trovão da boiada...
Mas não sejamos asnos — oh, não —
a trocar respeito por medo na jornada.
Pois cada um traz seu furacão,
sua força que pulsa, seu ritmo secreto...
e a natureza, em seu gesto bruto,
é espelho do humano inquieto.
Enquanto remoem o ontem,
— fruto azedo, sem mais sabor —
ou esquadrinham um amanhã
que ainda não nasceu em flor...
Eu, aqui, no agora,
— com mãos calmas, passo lento —
alimento minha fera interior
apenas com paciência... e tempo.
Grão a grão, dia a dia,
no tear do que é presente,
teço uma juba de luz
para a fúria que dorme em minha mente.