O BRADO DO PALADINO E A NOBREZA DOS PIERRÔS
Se o paladino insiste em não ver,
que o incapaz de ouvir — sem calar —
não é quem guarda o sol da razão
no silêncio que sabe abraçar...
Mas quem despeja, sem filtro ou temor,
o rio turbulento da voz,
e nas águas revoltas da pressa,
afoga o que poderia ser luz.
Os contempladores, de olhos laços,
veem mais que o grito, mais que o punho:
observam quem quer ferir a multidão,
mas teme o toque do próprio espelho.
Cada palavra que lançam ao vento
— faca sem cabo, corte sem dono —
volta, devagar, como bumerangue,
e marca a face de quem a falou.
Ah, o Arlequim! Seu pranto pintado
é não entender o Pierrô:
por que ele insiste, com tanta nobreza,
em não enxergar a maldade que há?
E o rótulo que cola nos outros,
— venda de orgulho, pesada e crua —
é o mesmo que cega seus olhos,
enquanto o mundo... passa em poesia nua.