Admirável homem novo
Esse moço que anda pela calçada agora
Cheio de modos e itens
O álcool que consome é diferente
É puro e não faz mal à saúde
Seu sapato exala um cheiro forte de couro recém-cortado
Suas gravatas, dentro do guarda-roupa de madeira birmanesa
(Mais um de seus móveis todos brancos)
Tem tons de cores com muitos nomes
Que eu não poderia suspeitar:
Ele tem também sua gravata de dormir
Ele caminha como eu
Mas com as mãos metidas nos bolsos
E com calma
São 16 horas e ele está na calçada junto a um prédio e o que estaria a dizer no telefone?
Elucubrações, Vitupérios, Jurisprudências
Fuma seu cigarro com excessiva tranquilidade
De quem possui um pulmão reserva em qualquer lugar
Ri satisfeito e seu motivo me parece de todo cruel
Para mim ele existe como um véu preso a uma estátua
Todos o acham cômico ou ridículo
Mas ele é quem se diverte consigo
Tem 7 espelhos em casa e os utiliza todos
O corpo se faz e refaz em poses elaboradas
Não sente tédio, jamais boceja
Sua voz é regular como a do narrador do jornal das 21h
Não para perto de janelas e sempre pega a mesa central do restaurante
Tem estatura alta e braços médios
Seu cabelo bem alinhado me parece feito tinta em um quadro,
matemático
A barba reluzente me fere os olhos
Não conhece o sexo nem tem curiosidade para isto
Na sua agenda preta com linhas estreitas para sua
letra pequena e exemplar
Vem escrito no verso da capa: propriedade de Armando Albertini Braga.
Ligar para (21)96299-0021.
No domingo quando vai ao clube usa um chapéu de palha
Que julga de finíssimo gosto
Ninguém sabe senão eu que é um tremendo canalha
Oco, oco
De uma madeira já tão podre que não queima