o meu país
no meu país
não haverá eleições
os verdadeiros líderes
de tão bons e de tão líderes
serão aclamados, com festas
sorrisos nos rostos felizes
corações leves a voar
no meu país
não haverá a soberba
das castas e do mando
da presunção de escolhidos
lá todos serão iguais
no respeito e apreço dos desiguais
no meu país
não haverá cupidez
ser será mais importante que ter
e as pessoas amarão a essência
a aparência será o sinal dos tolos
que logo aprenderão sua inutilidade
no meu país
não haverá fome, miséria, vergonha
o alimento que a terra nos dá
satisfará a todos que lá viverão
a eles bastará saciar a falta do hoje
não haverá que temer o amanhã dos bons
que aprenderão a repartir o que têm
no meu país
a polícia, as armas, a guerra
existirão só como lembrança
do tempo em que ainda não se sabia
compartilhar a liberdade, o direito
a justiça não precisará ser ensinada
não nas escolas, o convívio a mostrará
ah, as escolas do meu país
mais que repetir, lembrar, treinar, fazer
vão ensinar a sonhar
descobrindo os bichos, árvores, rios, mares
as profundezas do cosmo sem fim
o mesmo sem fim de dentro de mim
no meu país
não haverá tristeza nem choro
as perdas serão compreendidas
serão festejadas despedidas
de breves ausências
e cada encontro será a descoberta
de que os jeitos diversos do outro
são o novo que nos vivifica
no meu país
a medicina será exercida pra curar
e não pra enriquecer os que a exercem
lá os médicos serão generosos sábios
e não mercadores do prolongar da vida
de pacientes tornados reféns
no meu país
Deus estará entre nós
enfim compreenderemos que ele
está no apertar de um abraço
no fruto que a terra produz
no alimento preparado com amor
no poente que tinge o céu de esperança
na noite que deslumbra o infindável
no meu país
caberão todas as quimeras
dos poetas sinceros no seu desvario
de traduzir em palavras o espanto e a comoção
que sonham a beleza e a revelação
e assim vão desfrutando a vida,
o milagre maior da criação