Desconexão

 

 

A vezes sou acometido por uma sensação

de que a vida não me pertence,

pertence a estranhos, não a mim.

 

Vivo pelo olhar e gestos alheios,

e da representação que eles têm de mim.

Vivo a mercê de seus humores,

gestos largos ou pequenos.

 

Nestes dias, tenho pensado nisso,

quando estava com um caniço a pescar minhas lembranças.

Eram lembranças de terceiros,

sensações movidas por atitudes de desconhecidos,

comportamentos estimulados por influências externas.

 

Ódio e ressentimentos fomentados por preconceitos,

tudo encrustado em mim.

Como sou influenciável,

com reboliço, meu coração estremece de pensar nisso,

de saber que minha vida é dirigida por forças externas.

 

A vida que é minha ainda está por ser descoberta,

mas como serei eu,

se em mim pulsa o sentimento de pessoas distantes,

o sangue de ancestrais, a memória de gerações passadas?

 

A cara que é refletida no espelho

não corresponde à minha,

é um ser completamente estranho,

híbrido, um animal,

um bicho, um pássaro, um lobo, um gato, um cão,

só sei que tem 7 orifícios.

 

Socorro!

Esse não sou eu!

Sou um estranho,

um desconectado de mim mesmo.

E isso não se reduz à questão de gênero,

credo ou raça,

é de estranhamento,

é o não pertencimento a mim mesmo,

não sei ao certo quem sou,

e isto é apenas uma constatação

Labareda
Enviado por Labareda em 22/03/2025
Código do texto: T8291839
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