Picadeiro da ilusão
Comédia e drama,
Aqui tudo se mistura.
Atores e atrizes,
Para o palco,
Rápido!
Não percam tempo,
Pois aqui a vida é muito curta.
Tragam os traumas do passado,
Exponham seus sentimentos,
A plateia é inclusiva,
Participam do momento,
Formulam seus pensamentos,
E criam uma nova trama,
Te julgam,
Nem precisam de argumento,
Basta ver a tua cara,
A cor da pele,
E o quanto ganha.
Torcem pelo culpado,
Justificando a decisão,
Pois ele fala de Deus,
Não, não é pecado,
Mas citar o Seu nome em vão?
Enquanto alguns defendem o assassino,
Outros protegem o ladrão,
Tento explicar que é apenas uma cena,
Mas tamanha a ignorância,
Que optei pela exclusão,
Pois não é obra da realidade,
É apenas ficção.
De repente o espetáculo para.
Um grito é ouvido do meio aos interativos espectadores:
“Pega ele”!
O público enraivecido,
Pelo que entenderam como falta de opinião,
Veio até mim.
O espetáculo parou.
Tentando conter meus pensamentos,
Me amarraram,
Fui conduzido a um hospital público,
Onde reforçaram os cuidados com uma elegante camisa de força,
E psicotrópicos,
Pois quem é contra tudo,
É louco,
Se afastou da sapiência.
E virou um sem noção.
Me encarceraram em um hospício,
Que é quase uma prisão,
Em uma cela solitária,
O tratamento?
Reclusão.
Convivendo com os “eus”,
Escrevo pelas paredes,
Há ecos,
Na solidão,
A raiva se intensifica,
Pelos idiotas,
De idolatria patriótica,
E usurpadores do dinheiro,
Que não vêem
Que todos estão aqui,
Para esquartejar a nação.
São nocivos,
Extremistas,
Todos iguais,
De lados opostos,
Carregam a certeza da razão,
E a maléfica ideologia,
De que sempre o outro é culpado,
Perversos e pervertidos,
Bandidos e assassinos,
A plateia os defende,
Se xingam,
Todos perdidos,
No mundo da fantasia,
Picadeiro da ilusão.