Picadeiro da ilusão

Comédia e drama,

Aqui tudo se mistura.

Atores e atrizes,

Para o palco,

Rápido!

Não percam tempo,

Pois aqui a vida é muito curta.

Tragam os traumas do passado,

Exponham seus sentimentos,

A plateia é inclusiva,

Participam do momento,

Formulam seus pensamentos,

E criam uma nova trama,

Te julgam,

Nem precisam de argumento,

Basta ver a tua cara,

A cor da pele,

E o quanto ganha.

Torcem pelo culpado,

Justificando a decisão,

Pois ele fala de Deus,

Não, não é pecado,

Mas citar o Seu nome em vão?

Enquanto alguns defendem o assassino,

Outros protegem o ladrão,

Tento explicar que é apenas uma cena,

Mas tamanha a ignorância,

Que optei pela exclusão,

Pois não é obra da realidade,

É apenas ficção.

De repente o espetáculo para.

Um grito é ouvido do meio aos interativos espectadores:

“Pega ele”!

O público enraivecido,

Pelo que entenderam como falta de opinião,

Veio até mim.

O espetáculo parou.

Tentando conter meus pensamentos,

Me amarraram,

Fui conduzido a um hospital público,

Onde reforçaram os cuidados com uma elegante camisa de força,

E psicotrópicos,

Pois quem é contra tudo,

É louco,

Se afastou da sapiência.

E virou um sem noção.

Me encarceraram em um hospício,

Que é quase uma prisão,

Em uma cela solitária,

O tratamento?

Reclusão.

Convivendo com os “eus”,

Escrevo pelas paredes,

Há ecos,

Na solidão,

A raiva se intensifica,

Pelos idiotas,

De idolatria patriótica,

E usurpadores do dinheiro,

Que não vêem

Que todos estão aqui,

Para esquartejar a nação.

São nocivos,

Extremistas,

Todos iguais,

De lados opostos,

Carregam a certeza da razão,

E a maléfica ideologia,

De que sempre o outro é culpado,

Perversos e pervertidos,

Bandidos e assassinos,

A plateia os defende,

Se xingam,

Todos perdidos,

No mundo da fantasia,

Picadeiro da ilusão.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 07/03/2025
Reeditado em 07/03/2025
Código do texto: T8279892
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