Canção da Terra Partida
Nas ruas de Gaza, o vento suspira,
Pedras e sonhos, a poeira que gira.
O céu carrega o peso de mil orações,
Mas a paz é um barco perdido nos mares.
A terra santa, tão perto, tão longe,
Um farol que brilha, mas não desencobre.
O chão que pisam é sagrado e ferido,
Pelos séculos de sangue, pelo grito esquecido.
Sara e Agar, duas mães, uma história,
Uma promessa que virou memória.
Sara, no palácio, Agar no deserto,
Duas mulheres, um destino incerto.
Uma casa dividida, dois destinos cruzados,
Irmãos separados por deuses e pecados.
No deserto, Agar chorou, o filho a morrer,
Mas o anjo trouxe água, fez o poço nascer.
"Levanta, Agar, segura o menino,
Pois dele farei um povo, um destino divino."
E hoje, no deserto de concreto e pó,
Quem será o anjo que estenderá a mão?
O inimigo chega com tanques e drones,
Com bandeiras de impérios, com tronos e ordens.
Israel ergue muros, Hamas responde com fogo,
E o povo no meio paga o preço, logo.
Bombas que caem como estrelas fugazes,
Marcando a noite com rastros vorazes.
E os profetas, onde estão?
Quem canta a canção dos que ficam sem chão?
Quem fala das crianças, das mães, dos anciãos,
Das casas que caem, dos mortos sem pão?
Das meninas que sonham com escolas, não com guerra,
Das mulheres que carregam a terra, a terra, a terra?
A história se repete, um verso cruel,
Impérios vêm e vão, mas a dor é fiel.
Da Nakba¹ à ocupação, dos acordos falhados,
A terra santa geme sob novos opressores.
E o mundo assiste, distante, calado,
Enquanto o futuro é soterrado.
Mas nas ruínas, uma voz ainda ecoa,
Resistindo, cantando, enquanto o tempo voa.
Porque Gaza não é só dor, é também resistência,
É a força que brota da mais pura semente.
É a mãe que protege, a filha que ensina,
A oliveira que cresce na terra arruinada.
E um dia, quem sabe, o vento mudará,
E a paz, como um rio, enfim correrá.
Sara e Agar, suas lágrimas secas na areia,
Mas a esperança é verde, como a oliveira.
Que a terra partida um dia se una,
E a promessa se cumpra, sob a mesma lua.