NAS RUAS SUBURBANAS
Nas ruas suburbanas, os carros correm
De um alguém, que não sei; nem sei porque fogem.
E não escapam do que fogem, sem paradeiro.
As vozes, porém, seguem meus eternos companheiros.
Já tentei desistir, confesso,
Deixar esses crimes e processos.
Mas neles me encontro,
seja no roubo, ou no ato fatal,
mas matar não é o fim, e sim meu próprio ritual.
Amor pelo próximo? Não tenho.
Compaixão, ou remorso pelas minhas vítimas?
Não sofro desse mal.
Misericória? Não habita em meu ser,
Somente tento essas vozes me vencer.
"Companheiro, roube, sacie tua sede de sangue"!
Elas gritam em meus pensamentos,
e quando as satisfaço, o silêncio é rei,
mas não dura muito, amanha voltam, eu sei.
Sem aviso prévio, mais fortes retornam
e eu, impotente, contra elas, volto sedento,
trazendo terror, meus passos refaço
Volto sempre, botando fogo no mesmo pasto.
Sou incurável, um réu confesso,
nas noites suburbanas, jogo o meu laço
e, intratável, todos os dias os passos do crime
meço.
E volto, e sempre voltarei
Para essas ruas suburbanas sem ordem
e sem lei.