DNA DA ROÇA - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros
DNA DA ROÇA - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros
A gente do interior
é espontânea, verdadeira,
nem tem tempo para a dor,
sofre amor a vida inteira.
Cede a cama ao visitante,
degusta café com pão
e se cura, num instante,
de qualquer constipação.
Fala mansinho, miúdo,
gesticula, conta história,
e inté ri do desestudo,
lembra "causos", que memória!
Se acocora, pita, bebe,
seu licor ou cachacinha,
dá bem mais do que recebe,
eta gente boazinha !
Cominho, couve, abobrinha,
carne seca, feijoada,
com taioba e canjiquinha,
alho e cebola queimada,
banha de porco, costela,
tomate, jiló, palmito,
tudo vai para a panela,
e o prato fica bonito !
Meu Deus do céu, que tempero !
Angu, bife acebolado,
tudo feito no esmero,
que tal esse refogado ?
Saladinha de repolho,
com torresmo bem assado...
-Vira pra lá esse olho,
seu moleque esfomeado!
Pão de queijo, cafezinho,
queijo prato, goiabada,
leite fresco e inté quentinho,
será que não falta nada ?
Ah, lembrei: cuscuz, quindim,
broa de milho, manjar,
doce de leite, pudim,
quem que não quer degustar ?
Muito pé carregadinho
de manga e jabuticaba,
mas cuidado, no matinho,
pode ter cobra da braba
Monjolo, caldo de cana
saidinho da moenda
tangerina, abiu, banana,
na quitandinha e na venda.
fuxico ou colcha de renda,
vassoura limpando o chão,
venda a fiado na venda,
arroz, farinha, feijão,
molho bom no talharim,
quem quiser comer, que venha:
batata doce, aipim,
e tome fogo na lenha !
Queijo minas, goiabada,
linguiça. broa, café
doce de leite, torrada,
mamão colhido no no pé,
casa de taipa ou de zinco, cabaninha, casarão,
Fogão a lenha no afinco,
bom para assar um leitão.
pé-de-moleque, pamonha,
amendoim torradinho,
erva pra curar peçonha,
na janela, um coleirinho.
É tanta coisa bonita
que se alguém quiser levar,
não vai caber na marmita,
é bem melhor degustar.
Tem congada, tem Folia
de Reis, tem banda na praça,
tem procissão, tem magia,
Maria cheia de Graça,
Cum orguiu, honra i sórti,
ieu sô fio dessa gênti
du sudesti, su i nórti
purissu ficu contênti.
Falei tanto e nada disse,
quem quiser complementar,
se não inventar tolice,
à vontade: é só falar.
Essa prosa tá tão boa,
que tal um amendoim ?
Leva um pouco pra patroa
e se puder, lembra de mim!
Às 20h e 59min do dia 23 de novembro de 2019 do Rio de Janeiro Brasil.
Registrado e Publicado no Recanto das Letras ( direitos autorais reservados ao autor ).