Mercadores da fé

Mercadores da fé estão presentes em muitos templos.

Pouco importa a religião pois vendem o deus que lhes convêm.

Olhando nossas cidades não é difícil de encontra-los,

Pois suas ‘tendas’ estão nas periferias, no centro e nos bairros chiques.

Neste mercado há diversidade de produtos e de consumidores.

Em sua maioria os fieis são pobres e vivem na precariedade.

A violência, nas mais variadas formas, é parte de seu cotidiano.

Mesmo sendo pardos e negros são ‘incapazes’ de ver o racismo.

Com baixos salários, uberizados em geral, evitam ou boicotam o ‘sindicado’.

Odeiam política, principalmente aquela que associam ao ‘comunismo’.

Indiferentes às grandes causas só querem ter paz...o mundo não é minha responsabilidade.

Capelas, pontos de pregação, terreiros em meio à mata

Tudo isso é coisa do passado, o que funciona agora são os pontos de venda.

Comercializa-se o sagrado nosso de cada dia ao gosto do freguês.

Gosto que acompanha uma grande variedade de produtos oferecidos:

Água abençoada do rio Jordão ou mesmo do Mar Morto,

Uma relíquia instantânea produzida no Horto das Oliveiras...

Qualquer coisa, desde que bem embalada em sonhos e desejos piedosos

Completam uma extensa lista...um catálogo sempre carregado de inovação.

Tudo isso recoberto com piedade, cantos, gestos de uma fé que convence:

Somente ‘homens de deus’ sondam a alma sedenta e conduzem a ovelha

A pastos tranquilos...à plenitude espiritual do encontro com o Senhor!

Não existem dúvidas e se pode tocar o mistério com as mãos ... e os bolsos.

Comerciantes da fé embrulham seus produtos com a ‘Palavra de Deus’:

Livro, capítulo e versículos na ponta da língua e sempre oportunos para o momento.

Vão além da mera venda, oferecem credibilidade e apego à tradição.

Que tradição? Que modelo de família e de moral? Que atitudes perante a vida e o mundo?

O que for eficiente e resultar em dízimo, ofertas espontâneas, testemunhos.

Uma franquia vibrante e envolvente ... já é um indicativo de unção e sucesso.

Não basta aos mercadores da fé a vasta colheita de seus resultados.

O próprio rol dos fiéis é mais um produto a ser negociado.

Eleitor o fiel acolhe o imperativo de votar nos indicados,

Nos agraciados com qualificativos piedosos e notadamente conservadores.

Os mercadores da fé, de hoje, garantem ao fiel prosperidade na fidelidade.

Quando recusam a serem conduzidos, repreensão e condenação por ‘desvios morais’

Mas tudo isso ainda é pouco, quando há tanto por fazer e lucrar.

Há leis que garantem Isenção de impostos para igrejas e ministros (as) religiosos (as),

‘Doações’ de terrenos, subsídios na aquisição de bens e serviços.

Para os mercadores da fé o Congresso Nacional é uma ‘terra cheia de oportunidades’:

Otimizar leis ‘antiquadas’, criar novas, bloquear o que pode ser hostil ao ‘negócio’.

Sempre é possível melhorar o que já está bom. Deus abençoa os que nele creem.

Felizmente a fé e, toda a busca pelo divino, não pode ser medida a partir dos mercadores.

Comerciantes e burocratas do sagrado sempre existiram... não são novidade!

O próprio jesus os expulsou do templo e em mais de uma oportunidade os criticou:

Sepulcros caiados, exploradores da fé dos inocentes e empobrecidos.

Verdadeiros ‘filhos de Belial’...exploradores da miséria alheia.

Hoje, como no passado, cabe o confronto e a denúncia profética.

obs: Dia 13/11/2024 foi aprovada na Câmara dos Deputados a PEC que amplia a imunidade tributária dos templos, de qualquer fé. Seguindo o rito previsto, a PEC agora irá a votação no Senado Federal.

William Andrade
Enviado por William Andrade em 19/11/2024
Código do texto: T8200537
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.