Deus Dinheiro

Ouço o clangor arrepiante das badaladas da sinistra Inquisição, anunciando a hora da caça às pessoas errantes.

Ouço o clamor angustiante da carne negra perfurada pelas balas do Estado, abatidas como d’antes, apenas com diferentes cenários.

Ouço o dissabor excruciante dos crucificados por ser quem são, os que carregam a cruz insana dos que inventaram o pecado.

Ouço o horror digno de Dante diante dos porões da ditadura, o chispar dos ratos enfiados nas vaginas de mulheres fascinantes.

Ouço a dor lancinante dos esquecidos, dos humilhados, dos desvalidos, dos rejeitados - lançados como dados à própria sorte.

Ouço o torpor delirante dos enganados, roubados e manipulados através da fé e do fanatismo, por salvadores com ressalvas de ceifeiro.

Ouço o rumor incessante das duras penas dos demagogos que definem o rumo do trabalhador, cada dia mais explorado e sentenciado a labutar à morte.

E ouvirei ainda, em Palestinas ou em terras ermas, bombas sendo explodidas a esmo, aliás, dirigidas mesmo, em nome do Deus Dinheiro…