PIB
Uma pequena gota um dia vira o oceano
É o que nos leva pra frente
A despeito do precipício
A virtude ou o vício
Caminhar no fio da navalha
Juntando migalhas do pão de cada dia
Ou que o diabo amassou
Não me encontro no PIB
Não entro no crescimento nacional
Pelejo para pagar o açougue
Não há galinha no meu quintal
Nessa eterna quarta-feira de cinzas
Comer bem virou milagre carnal
O Brasil está virando um rebanho budista com pouca meditação
Jejum e desejos numa bandeja vazia
Velhos donos, antigos pesadelos
Nas ruas os olhos seguem espantados
Sinais fechados
Mãos vazias
Ninguém arrisca um bom dia
A pressa, o passo, a fome
Desumanizados urbanos banidos da possiblidade de tragarem qualquer quantidade de humanidade
O jornal noticia que estamos no ápice da civilização
Fartura e inanição dentro da mesma concepção
Não aprendemos a lição
Misturamos discursos com poluição
Retórica vazia é a mais nova forma de canção
Nas telas pessoas postam vidas perfeitas
E a resposta é sempre não para qualquer forma de usar o coração
Uma pequena gota agora vigora
Uma pequena bolha manobra orçamento nacional
Comer bem ainda é algo carnal
O carnaval vai demorar
O açougue atrasou
O feijão aumentou
O pib cresceu
O que sou eu nesses números?
O oceano social congelou
O campeonato acabou
Todos estamos perdidos nesse panorama
Embutidos
Enlatados
Encarcerados em teorias coloniais atuais
Somos sempre usuais
Alvos fáceis dos donos do poder
Sempre botam pra fuder
O Pib cresceu novamente
E isso continua não retratando nada sobre mim
Isso nada fala de você