PIB

Uma pequena gota um dia vira o oceano

É o que nos leva pra frente

A despeito do precipício

A virtude ou o vício

Caminhar no fio da navalha

Juntando migalhas do pão de cada dia

Ou que o diabo amassou

Não me encontro no PIB

Não entro no crescimento nacional

Pelejo para pagar o açougue

Não há galinha no meu quintal

Nessa eterna quarta-feira de cinzas

Comer bem virou milagre carnal

O Brasil está virando um rebanho budista com pouca meditação

Jejum e desejos numa bandeja vazia

Velhos donos, antigos pesadelos

Nas ruas os olhos seguem espantados

Sinais fechados

Mãos vazias

Ninguém arrisca um bom dia

A pressa, o passo, a fome

Desumanizados urbanos banidos da possiblidade de tragarem qualquer quantidade de humanidade

O jornal noticia que estamos no ápice da civilização

Fartura e inanição dentro da mesma concepção

Não aprendemos a lição

Misturamos discursos com poluição

Retórica vazia é a mais nova forma de canção

Nas telas pessoas postam vidas perfeitas

E a resposta é sempre não para qualquer forma de usar o coração

Uma pequena gota agora vigora

Uma pequena bolha manobra orçamento nacional

Comer bem ainda é algo carnal

O carnaval vai demorar

O açougue atrasou

O feijão aumentou

O pib cresceu

O que sou eu nesses números?

O oceano social congelou

O campeonato acabou

Todos estamos perdidos nesse panorama

Embutidos

Enlatados

Encarcerados em teorias coloniais atuais

Somos sempre usuais

Alvos fáceis dos donos do poder

Sempre botam pra fuder

O Pib cresceu novamente

E isso continua não retratando nada sobre mim

Isso nada fala de você

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 13/11/2024
Código do texto: T8195827
Classificação de conteúdo: seguro