IMAGEM REFLETIDA

Eu me despi diante do espelho,

não só de roupa, mas do que sou,

olhei-me com os olhos que o mundo carrega,

esses olhos que julgam, que ditam, que cobram.

Desajustada, sem forma que sirva,

fora dos moldes que nunca escolhi,

minha pele, um mapa de marcas e dias,

meu corpo, um eco do que já vivi.

Não vi beleza na curva do peito,

nem no desenho sutil da cintura,

só vi as sombras dos tempos modernos,

que apontam o dedo e impõem a censura.

Mas, enquanto me olhava com os olhos de fora,

algo em mim se resolveu em silêncio,

pois há beleza que o espelho não mostra,

há vida que escapa ao julgar do momento.

E nessa nudez, no vazio aparente, descobri, no fundo, a verdade latente:

sou mais que as formas que eles desejam,

sou mais que um corpo a se ajustar às ideias.