Pedaço de paraíso
Eu precisava de um instante só
Para conviver com meus pensamentos,
Maravilhar-me com intensa beleza,
Deixar de lado tudo que é tormento.
Foi este o motivo de eu estar aqui
Na solidão da mesa de um bar.
Tão envolvente é o espetáculo
Quase nem noto o tempo passar.
Contemplo uma imensidão de águas azuladas,
Sinto descansarem os meus semblantes
Ao apreciá-las a dançar com a brisa
Impecável valsa, sublime, galante.
Como um véu sobre as águas suspenso
Vejo se elevar nuvem branca resplandecente
Que em pouco tempo se desfaz ao sol
Com seus raios prata vindo do oriente.
Digiro o paladar suave do silêncio
Que por umas aves hora interrompido.
A paz que aqui sinto é sentimento intenso,
Que faz tanto bem agrada meus ouvidos.
Vestígios, não tão distantes, vejo
Da submersa outrora cidade.
Histórias diversas, segredos, desejos...
Que na memória, hoje, habitam saudades!
Confesso: não fiz parte da história
De abençoado pedaço de paraíso
Até o momento que aqui pisei,
Mas pra voltar tenho bons motivos.
Ao interrogar valoroso habitante
Sobre o passado da velha cidade
Fiquei sabendo que sob aquele mar
Não restara muito além de saudade.
Que as águas que hoje sufocam o passado
Desta promissora, tranquila cidade
Façam o mesmo com as tristes lembranças
De todo o seu povo desde a mocidade.
Que chovam bênçãos sobre este lugar
Trazendo a paz e às doenças cura.
E que o povo sinta a presença constante
Do bom criador junto a Itapura.