Noites frias de abandono

A noite chegou, o dia se foi sem que eu percebesse,

Lá fora, o frio intenso congela os corações dos menos favorecidos,

A alma que chora pedindo um prato de alimento, ou uma bebida quente,

Que lhe sacie a fome e lhe aqueça o corpo frio e úmido,

Ou mesmo uma velha manta,

Que lhe proteja do forte vento que lhe castiga o corpo...

Os mais aflitos, procuram o abrigo de algum teto vazio,

Os mais privilegiados encontram o aconchego de um viaduto

Crianças abandonadas, idosos carentes, ou pessoas perdidas...

São criaturas sem lar, sem amor, sem o calor humano

Procurando em cada olhar que cruzam com os seus

Um pouco de carinho... afeto ou mesmo, um sorriso...

Alguma roupa velha, ou um sapato sem uso,

Algum agasalho, que não mais lhes sirvam mais,

Algum afago que lhes aqueçam o coração,

Ou mesmo um velho e duro pedaço de pão...

O frio, o abandono, a penumbra da noite

Que não lhes traduzem a tortura do tempo,

E a tristeza refletida na ternura do olhar...

A insesatez dos que lhes passam e lhe negam um sorriso.

E a noite que passa, longa e eterna, parecendo não ter fim...

As luzes da cidade que acalantam seu sono inquieto,

O sussuro do vento que lhes fazem cantiga de ninar aos ouvidos,

O céu cinzento com poucas estrelas, que é o teto que lhes abrigam,

O silêncio da solidão que aquece o seu corpo que jaz cansado

No chão de algum lugar das ruas...

Ou num banco de alguma praça...

Procuro encontrar uma resposta prá tanto sofrimento e descaso,

Pergunto prá mim mesma porque esta diferença social...

Muitos se deleitam em jóias, riquezas e noites de gala,

Enquanto uns menos favorecidos tudo que queriam era ter onde morar...

Ou mesmo um lugar quentinho onde pudessem repousar...

O frio que eles sentem lá fora muito me incomoda,

E o que mais me atinge é a dor deste abandono

Que sustenta o meu doce olhar...

São noites vazias que o tempo nunca apaga,

São vidas desprezadas, que quem pode e deve, não quer ajudar...

Me perco na noite buscando o consolo ao meu coração tristonho

Que sofre este abandono, ao olhar pela vidraça, sem ter como poder melhorar...

Esta cena ilógica que me tortura o olhar...

Esta melancolia das noites frias sem luar...