Têm nome

No silêncio da noite, a fome grita.

Em barracos de lata, a miséria habita. Olhos cansados, sonhos desfeitos, Esperança perdida em becos estreitos.

Crianças choram, mães desesperam, Em busca de um pão, que não chega.

A miséria não cessa.

Estingue vidas magras, amarelas.

Falta água, Senhor,

falta vida.

Um prato de comida, por favor —

uma voz miúda me pede.

Quem tem fome, chora.

Quem tem fome, implora...

Um gesto qualquer de amor,

que aqueça a alma, alivie a dor.

Uma lágrima rola na pele escura,

queimada pelo Sol da roça.

Falta tudo só não lhes falta fé.

No prato, pobreza.

Nas panelas, fome.

Vão-se vidas pouco a pouco,

sem glória, sem amores ou paixões.

Queriam somente arroz, feijão, uma carne quiçá.

A barriga ronca pra lembrar comida.

Ela avisa que precisa algo

que se mastigue,

que se engula,

que se coma.

Rostos maltrapilhos vagam na terra.

Têm fome, Senhor.

Têm nome.