MULHER DA VIDA

Quantos lábios beijastes?

Quantas mãos acariciaram teu corpo?

Fales dos travesseiros, dos lençóis, das camas,

Sabe lá Deus de quem são.

Confessas serem corriqueiras as paixões,

Mas não revelas o teu sentido de amar,

Já que és mulher de homens mil,

Por vezes mil, por um instante só.

Queria te ver feliz – sinceridade –,

Sem esses traços de pintura, essa mão na cintura;

Queria um olhar de doçura, uma voz com ternura,

Mas te impuseram como rima uma vida tão dura.

Sabes onde habitam os prazeres dos homens,

Conheces todos os gozos que nem imaginam as mulheres,

És musa dos mal-amados, dos não correspondidos,

Rainha dos motéis, dos fundos de quintais.

Queria encerrar exaltando-te e, então,

Revelar o teu valor, o espaço que ocupas,

Mas ser incompreendido é o que mais me preocupa,

Pois és mulher da vida que a todo instante te estupras.