O frio do preconceito
O frio chega na minha pele
rasga minha carne
e chega nos meus ossos
Uma garrafa de cachaça
ajuda a salvar minha vida
dessa quase hipotermia
No auge do meu desespero
minhas lágrimas viram
pedras de gelo
Pessoas dão risadas , fazem troça
quando eu passo
trançando as pernas
Me julgam o tempo inteiro
falam , lá vai o cachaceiro
um vagabundo sujo , drogado
se ele pedir dinheiro
não lhe dê sequer um centavo
Eles não entendem que eu preciso
da bebida , para encarar o frio
e preencher esse vazio existencial
Nunca fui um homem mal
Eu preciso andar como um zumbi
nesse chão frio
não consigo dormir
Vou fazer uma fogueira
com papelão e jornal
e alguns gravetos
para ver se me aqueço
Quem sabe eu , encontre meias
em algum latão de lixo
para os meus pés descalços
Mas eu também precisava do calor
do afeto , de um abraço
Vou virar essa madrugada
na agonia dessa noite fria
sinto os castigos desse inverno
Espero o sol nascer , mas que ele venha rápido, pois talvez eu entre
num coma alcoólico, e chegue ao óbito