O frio do preconceito

O frio chega na minha pele

rasga minha carne

e chega nos meus ossos

Uma garrafa de cachaça

ajuda a salvar minha vida

dessa quase hipotermia

No auge do meu desespero

minhas lágrimas viram

pedras de gelo

Pessoas dão risadas , fazem troça

quando eu passo

trançando as pernas

Me julgam o tempo inteiro

falam , lá vai o cachaceiro

um vagabundo sujo , drogado

se ele pedir dinheiro

não lhe dê sequer um centavo

Eles não entendem que eu preciso

da bebida , para encarar o frio

e preencher esse vazio existencial

Nunca fui um homem mal

Eu preciso andar como um zumbi

nesse chão frio

não consigo dormir

Vou fazer uma fogueira

com papelão e jornal

e alguns gravetos

para ver se me aqueço

Quem sabe eu , encontre meias

em algum latão de lixo

para os meus pés descalços

Mas eu também precisava do calor

do afeto , de um abraço

Vou virar essa madrugada

na agonia dessa noite fria

sinto os castigos desse inverno

Espero o sol nascer , mas que ele venha rápido, pois talvez eu entre

num coma alcoólico, e chegue ao óbito

NEREU AIRTO AMANCIO FILHO
Enviado por NEREU AIRTO AMANCIO FILHO em 26/08/2024
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