RETRATOS DA DESIGUALDADE
Nas ruas, corpos se arrastam, vazios de essência,
Num mundo onde a mercadoria é a única existência.
Passo por mesas fartas, observo os pratos repletos,
Enquanto estômagos clamam, vazios e discretos.
Passos pesados dos que caminham,
Ronco dos motores dos que voam.
Alguns nem percebem, nesta cidade rica,
Que atrás dos altos prédios, favelas são vidas.
Ainda sobre o preço da desigualdade,
Também se encontra no mercado.
De um lado, carrinhos cheios de futilidades,
Do outro, a quinzena vai com necessidades.
Neste retrato tão sofrido,
A desigualdade é a face mais sombria.
Vidas iludidas contemplam as vitrines,
Entre o glamour das lojas e o vazio da alma,
A desigualdade se mostra, crua e calma.
Em manifestações por causas distantes e vãs,
Desprezam-se os gritos das crianças sem pão.
Valorizam-se tantas coisas mais que a vida humana,
Esquecendo que sem igualdade, qualquer vitória é insana.
Esquecem que sem justiça social, sem saúde e educação,
Não há futuro para nenhuma nação.
Pois se não salvamos o ser humano do abismo da desigualdade,
Não há sentido em salvar mais nada, sendo pura vaidade.
Em hospitais públicos, a vida flerta com a morte,
Na espera angustiante, a fé se retorce.
Na escola, onde o saber deveria ser libertador,
A educação reproduz a ordem do opressor.
E assim, a sociedade
Perpetua as desigualdades.
Em cada esquina, em cada rua,
O contraste social continua.