O PODER QUE APODRECE

O PODER QUE APODRECE

(Dedicado ao grupo político dos Sarney)

Eu, maranhense, não estou vivo nem morto

Não sou cadáver nem vivo corpo

Sou o que fizeram de mim: nem escravo ou liberto

Sou preto, branco pobre, remediado e analfabeto

Aprisionado em cadeia sem grade, sem fim.

Meus algozes nasceram da ditadura

Vivem em regalia, em anarquia, festa e usura

São desumanamente ferozes há longo tempo

E se alimentam de ignorância, pobreza e fome.

Sou maranhense, não tenho credo cor ou nome

Sou velho, jovem ou criança desdentada

Sem educação, sem terras, sem posse, sem esperança

Um triste rosto com alegria apagada

Moro em palafita, casa de taipa ou choupana

(Dizem por que gosto, por opção, por tradição...)

Vizinho da burguesia como mendigo em Copacabana.

Possuo uma poderosa arma: um título de eleitor

Mas o tiro, pela culatra, é sempre em meu peito

Não respeitam minha decisão, minha opção, o pleito

Rasgam a constituição, matam o estado de direito.

Sou povo, massa de manobra, objeto de manipulação

Em mãos da (velha) raposa, do (esquálido) lobo, da cobra venenosa

Sou o povo e a terra, sou o Maranhão, presente de pai para filha

De volta ao baralho, sob usurpação, às mãos da quadrilha.

Sou, às vezes, raro maranhense, que lê, entende e pensa

Que fugiu do cerco da fome, que acrescenta ao nome

O título de educador, artista, ator, malabarista, trabalhador...

Que não se submete, não se deixa manipular como marionete

Sou tenaz maranhense, capaz, com coragem de lutar

De jornal pequeno, à boca miúda, da esquina, de mesa de bar

Mas de voz firme que faz ecoar a insubmissão

Nos quatro cantos do palácio, ilha e mansões

Tenho como missão a liberdade exaltar.

Sou maranhense que não se dobra, não se deixa governar

Pela maldade, pela mediocridade, pela arbitrariedade

Pelo desejo e birra de simplesmente mandar

Pela ira, pela mentira, pela mira e o(a) mirante

A vontade absoluta d(o)a governante

Pela promessa reformulada, não cumprida

Manipulada, esfarrapada, mas não esquecida.

Não sou maranhense do Maranhão

Sou filho do êxodo, da perseguição

Do regime que oprime, de exceção.

Exceto a vida, me restaram a coragem e a decisão

De fugir da miséria do meu Estado

Em permanente e pública calamidade

De mostrar escândalos na claridade do dia

De denunciar acordos que fedem mais que latrina

Sem o temor da justiça, certos da impunidade

De mostrar obscuridades, obscenidades nas noites de jogatina

Crimes nus, sem pudor, prática do podre poder que apodrece

Sou maranhense do Amapá e outras terras do norte

(Infestado pelo mau geneticamente modificado

na ilha de curupu – cupins do erário)

Mal que se alastra, infesta e se manifesta

Nas festas e cirandas em rede nacional.

Sou dos garimpos de sorte, dos subempregos do sul

Maranhense evadido, corrido da ilha de Upaon-Açu.

Tanto mal um dia se consome e comerá o próprio nome

Assim como o verme mata quem mata sua fome.

Como a sarna mata o cão, o clã lentamente se mata

Engasgado com o que lhe farta - a ambição.

Poeta matemático
Enviado por Poeta matemático em 17/07/2024
Código do texto: T8108592
Classificação de conteúdo: seguro