O preto

Por: Guido Campos

No ventre transcontinental, onde o sol nasce de forma vertical,

Brota a vida de raízes profundas, em terra ancestral.

Tradição que ecoa no batuque dos tambores, atemporal,

E no canto das vozes que ressoam um lamento celestial.

De Ifá a Oxum, o panteão reluz em cores de ébano e ouro,

Foi que foi dito:

Haja luz.

Histórias tecidas em fios de memória, tesouro sagrado, consagrado, e fora do agrado.

Cada orixá guarda segredos antigos, de um povo que chora,

Mas também celebra a força e a resistência de um legado, a resiliência de um chamado.

Nas danças ritmadas, o corpo é poesia em movimento,

Ritual que transcende o tempo, conectando o presente ao passado,

O coração pulsa ao som do atabaque, em perfeito alinhamento,

Revivendo mitos e lendas, em um transe encantado.

As matriarcas, sábias guardiãs do saber milenar,

Transmitindo em cânticos e rezas a sabedoria divina.

Axé, muito axé...

O axé que flui em suas veias, energia vital, singular,

Revela a beleza de uma fé que o tempo não extermina.

Axé, muito axé...

África, mãe de todos nós, berço da humanidade,

De suas entranhas emergem histórias e Estórias de luta e glória,

Persistência que se ergue contra a maré da adversidade, da maldade, da covarde europeia crueldade.

E se perpétua nas palavras e gestos, eterna memória, de reis e rainhas, principes e princesas.

Nas pinturas de corpos marcados, identidade é celebrada, cultuada, culturalizada.

Cores vibrantes que contam a jornada de um povo unido,

Em cada traço, uma história e muita estória de bravura é lembrada,

Axé, muito axé...

O futuro é moldado pelo orgulho de um passado vivido.

Que as águas de Oxalá lavem nossas dores e feridas,

E traga vida, muita vida.

Que a sabedoria de Orunmilá ilumine nossos caminhos,

E que a força de Ogum nos guie em batalhas renhidas,

E traga vida,muita vida...

Para que jamais esqueçamos nossas raízes e carinhos.

Assim, em cada canto e reza, em cada batida de tambor,

Revive-se a ancestralidade negra, herança imortal,

E a alma africana, herança imortal, vibrante de amor e ardor,

Segue iluminando o mundo, em uma dança ritual.

Salve o preto imortal.