PRETA

Quantas de ti sou eu,

Destas que sofreram nós porões de um navio,

Destas que no mar bravio

Viram seu continente desaparecer no infinito

Mas não de seus corações e mentes...

E dentre um choro incontido,

Um grito

De saudades d'África

Numa eterna diáspora?

Quantas de ti cabem dentro da minha alma ancestral

Nesse lugar de desterro,

Nesse lugar de desamparo,

Nesse lugar de desapropriação,

Normalizado em um tempo sem respostas,

Sem tempo direito

E sem direito a ter tempo, voz e vez?

Em mim,

És minha irmã, minha mãe, minha avó

Livre pra ser a minha herança

Somos: todas nós

Os nós desse grande cordão de preciosas contas

Os ecos de antigas vozes ecoando no ser

Que tentam contar nossa história

Resgatar nossa memória

E todas as nossas gerações:

Benedita, Carolina, Dandara, Sabá

Benguela, Esperança,

Makeda, Zaira,

Marielle,

Nina...

Dentro de mim, respondem:

__Presente!!!

By Nina Costa, in 05/07/2024

Mimoso do Sul, Espírito Santo, Brasil

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 07/07/2024
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