MADALENA

Só poderia ser Mulher

Só poderia ser Madalena

Ser ponte, ser pinguela

Mistura de cravo e canela

Estar há tempos abandonada

Como tantas Madas e Lenas

Com suas silhuetas enferrujadas

Suas dores, cicatrizes e marcas

Como as de um rio,

Cuja pororoca nunca mais se viu!

Madalenas como a do Jucu:

Canelas-Verdes,

Bocas vermelhas

E cabelos soltos ao vento...

Mulheres que emergem suas histórias

Que se equilibram sob as águas

Como nas ondas surfadas por seus meninos-heróis

Madalenas das rodas cantadas,

dos tambores, dos chocalhos e das casacas

Madalenas das batucadas!

Com suas mãos calejadas, rodopiando saias

Com estampas de flor e rendas de bilrro

Vaidosas, plenas, capixabas

Artistas de versos e rimas

Mães dos Jongos das congadas

Quem sabe inspiradas

Pelo trompete celestial que anunciara:

“-Vai carregar bandeira! ”

Estandarte de guerra e de sonhos

Das doulas que embalam novas vidas

Em suas rendas feitas de tradição

De mulheres que são pontes

À espera de um grande amor:

Sambando à porta de Jacarenema,

Ouvindo pássaros ao amanhecer

Madalena, venha ressurgir!

Com sua formosura,

Com tanto bem-querer.